O Grande Problema dos Pequenos Incrementos na Gestão de Projetos Agile    

O Agile revolucionou por completo o paradigma da Gestão de Projetos. Estas abordagens permitem entregas mais rápidas, maior adaptabilidade e um ciclo de feedback contínuo e frequente. Em teoria, isto permite-nos aproximar as nossas entregas dos objetivos definidos para um projeto. 

No entanto, um dos princípios fundamentais do Agile – as entregas rápidas e frequentes – pode também trazer consigo um desafio relevante. Embora dividir o projeto em pequenas partes possa ser vantajoso em termos de adaptabilidade e resposta a mudanças, também pode trazer consigo algumas desvantagens. 

Vantagens dos Pequenos Incrementos na Gestão de Projetos Agile

As entregas frequentes, também conhecidas como “incrementos”, trazem consigo uma série de vantagens significativas. Esta técnica permite que as equipas mantenham uma abordagem mais flexível e adaptável ao longo do ciclo de vida do projeto. 

Uma das principais vantagens dos pequenos incrementos é a capacidade de obter feedback rápido e contínuo. Ao dividir o projeto em entregáveis mais pequenos, as equipas podem receber feedback dos clientes ou utilizadores finais mais cedo no processo, o que permite ajustar e melhorar as entregas ao longo do tempo. 

Além disso, os pequenos incrementos facilitam a gestão de riscos. Ao trabalhar em ciclos curtos e iterativos, os gestores de projeto podem identificar e abordar potenciais problemas mais rapidamente, reduzindo assim o risco de falhas catastróficas no projeto. 

Outra vantagem é a capacidade de manter os membros da equipa focados e motivados. Os incrementos permitem criar objetivos tangíveis em intervalos mais regulares, o que faz com que as pessoas se sintam mais incentivadas a trabalhar de modo produtivo. 

No fundo, os pequenos incrementos na gestão de projetos Agile permitem que as equipas alcancem melhores resultados de forma mais consistente. Mas será sempre assim?

Pequeno Incremento, Grande Problema 

O foco nos pequenos incrementos pode levar a um grande problema: a ilusão de progresso. Afinal, o Agile Manifesto diz-nos que a principal medida de progresso é a entrega frequente e contínua de software funcional, não é verdade? 

Mas, e se esse software for funcional, mas não estiver alinhado com o objetivo de negócio que queremos atingir?  

Por vezes, as equipas menosprezam a necessidade de atribuir um valor concreto aos pequenos incrementos na gestão de projetos Agile. Em vez disso, concentram-se apenas em produzir pequenas entregas, sem confirmarem que estas estão a contribuir para o objetivo global.  

Este é um dos grandes desafios do Agile: pode levar a uma falta de visão global do projeto, o que nos faz desviar dos objetivos que é suposto alcançarmos.  Por outro lado, também podem dificultar a priorização das entregas, uma vez que não temos essa visão global.  

É crucial reformular o conceito de “criar valor”. Criar valor não se resume apenas à quantidade de entregas realizadas. É essencial que cada uma dessas pequenas entregas contribua de alguma forma para o objetivo final do projeto. 

Como alinhar os pequenos incrementos com o objetivo final?  

O nosso objetivo pode, de facto, ser desviarmo-nos da visão inicial. Se for esse o caso, a abordagem Agile estará a cumprir o seu papel. No entanto, só saberemos se estamos a caminhar na direção certa se fizermos uma análise constante do valor e benefícios dos incrementos. 

Existem algumas técnicas que podemos usar para garantir o valor das nossas entregas: 

  • Manter e formalizar uma Visão Geral: manter uma visão global da estratégia, do início ao fim do projeto. Garantir que existe clareza sobre os objetivos a atingir, o valor a gerar, e o caminho a percorrer. E adaptar se necessário, mas com consciência. Essa visão deve também ser formalizada (através de documentos ou apresentações), para ajudar a manter o foco. 
  • Questionar para definir: fazer perguntas que permitam definir claramente o que é que cada cliente pretende entregar ao cliente ou utilizador final.  Qual é o problema que esta entrega resolve? Que benefícios é que o cliente terá? De que maneira é que isso contribui para os objetivos do projeto? 
  • Priorizar com base no valor: usando técnicas como “Value Stream Mapping” ou “MoSCoW” para priorizar as entregas com base no valor que elas trazem.  
  • Comunicação eficaz: manter uma comunicação clara e transparente com as partes interessadas ao longo do projeto ajuda a construir confiança e garantir que todos estão alinhados nesta abordagem incremental.  

Apenas deste modo conseguimos garantir que cada “pequeno incremento” está a contribuir para o “grande objetivo” do projeto.

O Agile não é a cura para todos os males.   

Nem a resposta para todas as perguntas. É essencial reconhecer que uma abordagem Agile não é adequada para todos os projetos. Alguns projetos têm objetivos mais estáveis e definidos, enquanto outros estão sujeitos a mudanças constantes. Pode fazer sentido usar um método tradicional, ou até mesmo híbrido.  

É importante aceitar esta realidade, e relembrar que o Agile não é uma receita única para o sucesso. É sempre necessário adaptar as práticas e princípios às necessidades específicas de cada projeto e equipa. 

Em particular, é crucial garantir o alinhamento dos pequenos incrementos com a visão global. É importante questionar: quanto dinheiro esta entrega vai valer ao cliente ou utilizador final? Qual é o benefício real que tiramos daqui? 

Dá trabalho ser Agile. Mas, se precisar da nossa ajuda, podemos ajudá-lo a implementar melhorias no trabalho das equipas ou a desenvolver o mindset da sua organização