Porque é que o Agile além da informática vale realmente a pena   

Em 2001, o Agile foi criado por informáticos, para ajudar informáticos a gerir projetos de desenvolvimento de software. Talvez por isso tenha ficado enraizada a ideia de que estes valores e princípios eram exclusivos às áreas relacionadas com tecnologia.  

Isto não poderia estar mais longe da verdade. Vejamos: os criadores do Agile Manifesto estavam cansados das metodologias tradicionais, que eram lentas, rígidas e cheias de burocracia. Por isso, decidiram criar uma forma de trabalhar mais flexível, colaborativa, e focada na entrega de valor ao cliente. A ideia é simples: dividir o trabalho em pequenas partes; entregar essas partes com frequência; e obter feedback do cliente. Assim, as equipas podem adaptar-se rapidamente às mudanças e garantir que estão a produzir o que o cliente realmente quer. 

Estas ideias podem-se aplicar a qualquer área de trabalho: em nenhum lado usámos conceitos relacionados com software. E a verdade é que as metodologias ágeis se têm tornado cada vez mais predominantes nos últimos anos, muito devido à pandemia e ao trabalho remoto. Por outras palavras: num mundo em constante mudança, o Agile torna-se uma filosofia essencial. Os valores e princípios que estão na base do Agile podem ser aplicados a qualquer área, se conseguirmos interpretá-los para além dos jargões técnicos.  

O que nos diz o Agile Manifesto?

O Agile Manifesto define os “mandamentos” do Agile: quatro valores e princípios que são a base de todo o mindset Agile. Os quatro valores centrais são: 

  • Indivíduos e interações mais do que processos e ferramentas 
  • Software funcional mais do que documentação abrangente 
  • Colaboração com o cliente mais do que negociação contratual 
  • Responder à mudança mais do que seguir um plano 

Estes quatro valores são detalhados em doze princípios: 

  1. A nossa maior prioridade é, desde as primeiras etapas do projeto, satisfazer o cliente através da entrega rápida e contínua de software com valor. 
  1. Aceitar alterações de requisitos, mesmo numa fase tardia do ciclo de desenvolvimento. 
  1. Fornecer frequentemente software funcional, com períodos de entrega de poucas semanas a poucos meses, dando preferência a períodos mais curtos. 
  1. O cliente e a equipa de desenvolvimento devem trabalhar juntos, diariamente, durante o decorrer do projeto.  
  1. Desenvolver projetos com base em indivíduos motivados, dando-lhes o ambiente e o apoio de que necessitam, confiando que irão cumprir os objetivos. 
  1. O método mais eficiente e eficaz de passar informação para e dentro de uma equipa de desenvolvimento é através de conversa cara-a-cara. 
  1. A principal medida de progresso é a entrega de software funcional. 
  1. Os processos ágeis promovem o desenvolvimento sustentável. Os promotores, a equipa e os utilizadores deverão ser capazes de manter, indefinidamente, um ritmo constante. 
  1. A atenção permanente à excelência técnica e um bom desenho da solução aumentam a agilidade. 
  1. Simplicidade – a arte de maximizar a quantidade de trabalho que não é feito – é essencial. 
  1. As melhores arquiteturas, requisitos e desenhos surgem de equipas auto-organizadas. 
  1. A equipa reflete regularmente sobre o modo de se tornar mais eficaz, fazendo os ajustes e adaptações necessárias. 

À primeira vista, o Agile Manifesto pode parecer um texto cheio de jargões técnicos: software; desenvolvimento; design; ou arquiteturas. Como podemos, então, interpretar o Agile além da informática?

Como podemos interpretar o Agile além da informática? 

O segredo para que o Agile Manifesto se torne aplicável a todas as áreas é este: trocar as palavras de “informático” por outras mais genéricas.  

Por exemplo: sempre que lemos “software”, pensamos em “valor”. No fundo, o Agile foca-se na satisfação do cliente através da entrega frequente e contínua de valor. Seja no lançamento de um novo produto, na implementação de um serviço ou na execução de um projeto, o foco está em fornecer resultados concretos e tangíveis de forma regular. 

Se olharmos ao princípio 11: “As melhores arquiteturas, requisitos e desenhos surgem de equipas auto-organizadas”. O que são exatamente ” arquiteturas “, “requisitos” e “desenhos”? São resultados! Portanto, se substituirmos estes conceitos por “resultados”, não estamos a limitar o princípio a projetos de software. 

Ao traduzir estes valores para uma linguagem mais universal, podemos perceber como se aplica o Agile além da informática 😊 

O Agile pode transformar qualquer área  

Atualmente, as metodologias Agile são muito populares e usadas em todo o mundo, em várias áreas. Já é muito mais do que uma forma de desenvolver software: é uma filosofia de trabalho que valoriza a colaboração, a adaptabilidade, e a entrega de valor. Prova disso são os mais de 50 participantes do nosso curso de Especialização em Agile Leadership, realizado em parceria com o Técnico+ e a APOGEP, onde a maioria trabalha em áreas fora do IT tais como: Marketing, Recursos Humanos, Apoio ao Cliente, Retalho, Seguros, Banca e Finanças, Turismo, e ramo Automóvel. 

Fazer o exercício de interpretar e reformular o Agile Manifesto para que seja mais “genérico” pode ajudar as organizações e as equipas a interiorizar a utilidade do Agile. De facto, este exercício já foi realizado por profissionais de outras áreas, que criaram o Agile Marketing Manifesto, Agile HR Manifesto; e Agile Sales Manifesto.  

Claro, nem tudo são flores. Implementar o Agile pode ser desafiador, porque implica uma mudança na cultura da empresa. É preciso definir novos processos; formar e acompanhar as equipas; e lidar com a resistência à mudança. No final, as recompensas valem a pena: maior produtividade; melhor qualidade do trabalho final; e clientes mais satisfeitos.